Núcleos envolvidos
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Mudar uma realidade implica transformar-se culturalmente, com novos olhares para atitudes, contextos e referências. A metodologia de formação do grupo de teatro do Núcleo Arteculturação insere a cultura como base para descobertas e mudanças, em um processo de reflexão, ampliação de repertório e construção coletiva.
As peças apresentadas no fim dos dois semestres de 2012 foram escritas pelos 34 educandos, a partir de temas disparados por debates, realizados nos encontros semanais, no Clube da Comunidade Tide Setubal. A violência nas escolas e o bullying emergiram da leitura de uma notícia sobre um atentado em uma escola americana. Somou-se à reportagem o episódio do massacre na escola de Realengo. Os desafios da escolha profissional das rodas de conversa sobre ditadura militar, em que a força de trabalho apareceu como força de posicionamento social nesse momento histórico do país, inspiraram Tripalium.
A peça Se Liga! colocou em cena depoimentos dos jovens acerca do bullying, apresentando-o como um comportamento individualista, causado pela falta de interesse pelo outro. No processo de criação, somaram-se à temática o trabalho com conceitos de iluminação técnica e exercícios sobre depoimento em cena. Inspirados pelo filme Escritores da Liberdade, no qual alunos de um bairro em guerra por causa das gangues são estimulados pela professora a escrever suas próprias histórias, os jovens inseririam no processo o diário de bordo. O caderno podia ser levado para casa para impressões e expressões dos alunos.
A partir do interesse pelo período da ditadura militar, a leitura do texto Eles Não Usam Black Tie alavancou improvisações que colocaram em pauta a forma como as forças sociais se constituíam pelas relações de trabalho. Somadas a isso, impressões e sensações de um dos alunos sobre qual caminho seguir, após uma pressão da família para começar a trabalhar e deixar o grupo de teatro, dispararam a construção do segundo espetáculo do ano: Tripalium.
Em pesquisa sobre a raiz latina de trabalho, há referência a um instrumento de tortura formado por três estacas cravadas ao chão, formando um X, onde o escravo era preso e torturado, o tripalium. O significado alinha-se ao momento de escolha dos jovens: começar a trabalhar? Fazer um curso técnico? Tentar a universidade? Seguir no curso de teatro? Essas inquietações foram para texto do espetáculo de mesmo nome, que propôs uma nova forma de apresentação, com contato e interação com o público.
Fotos: Julio Vilela
