Um encontro pela cultura de paz. Assim, pode ser definida a visita de Arun Gandhi a São Miguel Paulista, em junho de 2012. Sob o tema Educar para a Não Violência e Sustentabilidade: É Possível?”, o neto do pacifista Mahatma Gandhi falou para 280 pessoas, entre professores e alunos da rede pública e representantes de organizações locais. O encontro aconteceu no Galpão de Cultura e Cidadania, no Jardim Lapenna, em uma iniciativa da Fundação Tide Setubal, em parceria com o Instituto Democracia e Sustentabilidade (IDS) e com o Centro de Estudos e Pesquisas em Educação, Cultura e Ação Comunitária (Cenpec).
As histórias de Arun deixaram os participantes de ouvidos atentos à transmissão simultânea por quase duas horas. Ele, que é fundador e presidente do Gandhi Worldwide Education Institute, organização sediada nos Estados Unidos que resgata crianças das áreas mais miseráveis para oferecer a elas uma formação básica ampla e de qualidade, falou da sua vida com o avô e de sua trajetória para multiplicar a cultura de paz.
Segundo Arun, a educação tem um papel preponderante na formação para a não violência e deve ser baseada em quatro pontos principais: a necessidade de a escola ensinar a partir das questões do dia a dia; a propagação do aprendizado como um contínuo, que vai além da obtenção de certificados; a não punição de maneira violenta; e o estabelecimento de relações respeitosas com o outro e com as coisas da criação.
“A raiva é uma bomba que carregamos amarrada em nossos corpos. Por uma ação pequena, tola, podemos explodir. A escola tem de ensinar os alunos a lidar com essa energia e a convertê-la em pensamentos e ações que transformam, dentro de uma cultura de paz”, disse Arun Gandhi, ressaltando o papel central da escola nessa formação.
O ativista contou ao público que, quando criança, certa vez, se incomodou porque seu lápis estava muito pequeno. Ao voltar da escola, atirou-o no mato na esperança de ganhar outro. Quando seu avô, Mahatma Gandhi, soube de sua atitude, deu a ele uma lanterna para que procurasse e recuperasse o lápis, o que levou cerca de duas horas. “As crianças devem receber penalidades de acordo com a gravidade de suas faltas, mas de uma maneira edificante”, disse ele, ao concluir sua história.
Ao fim da exposição de Arun Gandhi, os cerca de 280 presentes, entre estudantes e educadores, se dividiram em grupos para discutir os temas e levantar ideias e perguntas. Karen Cristine, de 11 anos, da EMEF José Honório Rodrigues, de São Miguel, resumiu o pensamento de seu grupo: “Estamos dispostos a compartilhar nossos conhecimentos na busca da paz e da sustentabilidade, sendo bons exemplos todos os dias.”
Para Marli Viana da Cruz, coordenadora pedagógica da EMEF José Honório, o evento foi inesquecível: “Nossos alunos ficaram encantados.” Maria Cristina Antoniak, coordenadora na mesma escola, acredita ser possível trabalhar qualquer assunto pelo currículo escolar: “Temos de disseminar as sementes trazidas por essa conversa. A educação é o caminho para reverter, por exemplo, a tendência da sociedade para o consumo e para a individualidade. Com a abertura para a diversidade, a coisa acontece. Porém, é preciso passar para os professores esse tipo de entendimento.”
Além de integrantes da EMEF José Honório, a plateia foi formada por alunos da EMEF Armando Cridey Righetti e da EE Reverendo Urbano de Oliveira Pinto. Participaram, ainda, integrantes do Programa Jovens Urbanos, do Cenpec; do Instituto BM&F; de dois Centros Maristas; do Projeto Oca, ligado aos institutos Alana e Crescer; da ONG Viva Leste; da ONG Acaleô — Vila Itaim; da Associação Jardim Mara Helena; do Instituto Nova União da Arte; e da Comissão de Juventude do Galpão de Cultura e Cidadania do Jardim Lapenna.
Encerrando o encontro, o ator João Signorelli apresentou um trecho do espetáculo Gandhi, um Líder Servidor. Há nove anos ele encena esse monólogo, caracterizado como Mahatma, durante o qual narra reflexões e princípios e lê cartas deixadas pelo pacifista indiano